Uma garota corre entre cavalos

Ensaiando uma análise afetiva e territorial de Las Mil y Una (2020)

Resumo

Na última década e meia, a filmografia nacional ar-gentina foi inundada por explorações formais, críticas e conceituais realizadas por projetos que exploram horizontes variados, a partir de lugares periféricos de enunciação. A construção de sujeitos e espaços regionais no cinema tornou-se mais complexa quando surgiu um número maior de diretores de outras regiões do país diferentes de Buenos Aires, colocando em tensão os valores hegemônicos da cultura metropolitana. Ou seja, o surgimento de discursos no território nos permite pensar que as experiências daqueles que vivem em um território estão impregnadas em suas obras, ao mesmo tempo em que lhes fornecem um mundo, uma diegese, uma base sócio histórica e um sistema de relações sociais de referência. Isso nos permite imaginar que territórios —antes ausentes— são inscritos na cultura, quando geram um mapa de características e modos de ser/estar para os campos social, cultural e acadêmico.

Las Mil y Una (2020), o segundo filme de Clarisa-Navas, cineasta de Corrientes, continua a linha de Hoy Partido a lasTres (2017), construindo uma história que se passa na litoral argentino, a região de sua origem, com personagens —provincianos e provincianas— que desafiam as lógicas do binarismo de gênero. Este filme encena o papel social das mulheres, os problemas da comunidade LGBTQI+, a lógica da vida pública e privada sob tensão devido à hipermediatização, o deslocamento de bairros populares para as periferias das grandes cidades e as lógicas da democracia do bairro, entre outros; com uma profunda crítica social, amor pelos sujeitos que (re)apresenta e transversalizada por uma forte urdidura territorial.