A Cuba pós-comunista... um parque temático? Imaginários utópicos e contra utópicos em Havana literária
DOI:
https://doi.org/10.14409/culturas.v0i13.8602Palavras-chave:
imaginários utópicos, literatura cubana, Alejo Carpentier, Pedro Juan Gutiérrez, Antonio José PonteResumo
A crise econômica e o colapso progressivo do ideal do Novo Homem provocam, durante os anos 90, em Cuba, o surgimento de uma nova tendência narrativa (chamada «pós-comunista», «pós-soviética» ou «pós-revolucionária» e com representantes como Antonio José Ponte e Pedro Juan Gutiérrez), onde a lógica do intercâmbio artístico abandona a tutela do governo revolucionário para instalar-se numa lógica comercial. Lógica caracterizada pela concepção do próprio corpo como mercadoria ou valor de troca, pelo exibicionismo exacerbado das vozes narrativas e pela consequente explicação do leitor como voyeur. Perante a utopia carpenteriana, as imagens literárias do Centro Havana e A Havana Velha em ruínas, as figuras de Castro e Guevara ornamentando objetos de consumo de massas, e a exótica oferta sexual da ilha afirmam um imaginário pós-utópico usufrutuado para turismo, como se Cuba fosse um parque temático, uma reserva natural ou um museu ao ar livre. Vale a pena perguntar então como Havana textual, Havana fez das palavras (reinvenção,
por sua vez, da cidade geográfica que está fora dos textos), é um gerador de um imaginário social onde a utopia dominante do século XX é irreversivelmente permeada pela sociedade de consumo.